• Sobre uma lei, saúde mental e uma grande oportunidade. Por Flávio Medeiros

    Colaborador e colunista da Janela, Flávio Medeiros, diretor de Criação da 3mais e vice-presidente do Clube de Criação do Rio de Janeiro (CCRJ), tem um olhar especial e interessantíssimo sobre o que está a sua volta e, principalmente, sobre temas que passam desapercebidos pela maioria de nós. Como o texto de hoje.

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    Dia desses, estava indo de táxi para uma reunião e, olhando a paisagem pela janela, fiquei imaginando como seria ver a enseada de Botafogo pela primeira vez. Automaticamente, me veio a canção na cabeça: “sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la”.

    Como acontece quando a cabeça está divagando, me ocorreu outra ideia sobre a cidade. De um tempo para cá, começamos a ter o cuidado de criar um ambiente favorável ao crescimento das startups e dos negócios. O Rio é a sede dos principais eventos de tendência, comunicação e tecnologia do país, está investindo para se tornar um polo latino-americano de IA e dados, anda oferecendo incentivos fiscais, está na ponta do debate da transição energética e é uma das locações mais requisitadas do mundo.

    Mas, por que estou refletindo sobre essa equação natureza-beleza-tecnologia- negócios?

    A questão é mais profunda.

    Com a entrada em vigor da nova NR‑1, que torna obrigatória a avaliação e o gerenciamento dos riscos psicossociais nas empresas, e com a criação do selo “Empresa Promotora da Saúde Mental” pela Lei 14.831/2024, o Brasil esta dando um passo grande rumo a uma cultura corporativa com mais empatia. E a forma como as empresas vão se adaptar a essas transformações depende do contexto em que estão inseridas.

    E é aqui que os pensamentos se conectam: no Rio, o trabalho e a paisagem dividem o mesmo território. É possível ir para um encontro de negócios olhando o mar, almoçar em um dos muitos parques espalhados pela cidade, atravessar o Rio sentindo o cheiro da mata atlântica. Respirar fundo em meio à rotina. A geografia do Rio, generosa em beleza, convida à pausa, ao cuidado e ao equilíbrio.

    Mais do que isso: o Rio tem uma cultura de convivência que favorece a escuta, a coletividade e a informalidade que tantas vezes humaniza as relações profissionais. E essa atmosfera, se for integrada à estratégia das empresas, pode ser uma aliada poderosa na promoção da saúde mental, na capacidade de atrair e reter talentos e na construção de ambientes de trabalho mais humanos e criativos.

    As empresas e os gestores têm, portanto, uma oportunidade rara: transformar os valores e os cenários da cidade em práticas de gestão. Implantar políticas de bem-estar, de escuta ativa, de cuidado emocional. Com a leveza, a força e o soft power do Rio.

    Num país que caminha para tornar o cuidado com a saúde mental uma exigência legal, o Rio pode ser mais do que um cartão-postal: pode ser referência, pode ser exemplo, pode ser futuro.

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    Renata Suter

    Jornalista

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    Discussão

    1. Toninho Lima

      Um olhar sensível e atento do nosso Flavinho para as coisas que vemos e nem sempre enxergamos. Parabéns!

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